quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Museus



Dentro do panorama atual da condição contemporânea da arquitetura de museus, Montaner em “museus para o século XXI”(2003), ressalta que eles devem ser inseridos nos contextos atuais, proporcionados pela criação, ampliação e transformação dos mesmos.

A instituição museu ampliou seu papel dentro das sociedades contemporâneas, apesar das constantes crises, agravadas pelas críticas da arte de vanguarda e pelas destruições causadas pela Segunda Guerra Mundial. Essas crises reafirmaram o poder do museu como instituição de referência e de síntese, evoluindo e oferecendo modelos alternativos.

A idéia de museu foi essencial na definição dos conceitos de cultura e arte na sociedade ocidental. Sabendo que seu nascimento e evolução estão relacionados com o colecionismo público e privado e com a definição dos Estados Modernos. Assim, os edifícios culturais, especialmente os museus, passaram a representar papel preponderante nas grandes e pequenas cidades.

Com o aumento de um maior número de visitantes, houve uma necessidade de multiplicar os serviços de museu, com exposições temporárias e locais de consumo. Reforçadas assim, nas palavras de Luiz Fernandez-Galiano, editor da revista espanhola A&V, “A cultura ocupa lugar: mas nunca havíamos pensado que tanto (...)” (Montaner, Revista Projeto, n.144, p, 31, ag.1991).

Dentro do panorama atual, algumas obras souberam transpor os limites do tempo servindo de referências neste século.

Montaner, em seu livro, qualifica duas posições tipológicas dos museus contemporâneos: o museu de forma orgânica e irrepetível, e o museu entendido como contêiner ou caixa polifuncional e repetível.

Entre outros, seguindo a classificação de Montaner, adaptam-se ao primeiro caso, o Museu Guggenheim de Nova York de Frank Lloyd Wrigt e o Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha, de Frank Gehry. Eles têm na singularidade e no caráter excepcional suas marcas diferenciais, daí serem “irrrepetíveis”. Os espaços do museu de Bilbao são umas sínteses dos diversos tipos de concepção museográfica do final do século. Salas convencionais para obras tradicionais. Grandes salas para abrigar obras de grandes formatos do pop e minimal art; definições de altura dupla e forma singular para coleções concretas ou exposições individuais; uso de recantos ou locais de passagem que objetivam alojamentos artísticos singulares; coleções de fotografias ou de vídeo instalações e a configuração de grandes salas neutras em planta baixa para exposições temporárias de visitação maciça.
No segundo caso e de forma oposta, figuram o Museu da Técnica, Deutsches Museum, em Munique, Alemanha (1925- cuja sede moderna foi projetada por Paolo Nestler em 1961) e o Museu Nacional do Espaço, em Washington, EUA (1971-1975). Eles representam a idéia primitiva de museu, arquitetado como se fossem “uma caixa estática e fechada, acadêmica e simétrica”. Ocorre que, esta idéia primitiva abriu-se para o crescimento e a evolução, permitindo constantes adaptações e adequações, que levaram à transformação da concepção do seu interior e gradualmente à perda do seu antigo caráter abstrato.

O Museu de Arte de São Paulo (MASP, 1957-1968) é um nítido exemplo do processo de abandono da abstração com aproximação aos modelos e realidades modernos. Isto porque, tradicionalmente racionalista e abstrato, o Masp, impactou ao ter um enorme prisma suspenso sob uma grande praça coberta e ousou por não oferecer fachada a uma obra grande, nem uma entrada convencional.
O Centro Pompidou em Paris (1972-1977) de Renzo Piano e Richard Rogers é a evolução crucial do museu como contêiner.
A Tate Modern, em Londres (1994-2001), de Herzog e De Meuron, por sua vez, constitui um novo elo depois dos edifícios-massa, como o Centro Pompidou e do projeto de Koolhaas para Karlsruhe. Entende-se por edifícios-massa como sendo, um centro de arte multifuncional e popular - as “caixas mega-estruturais”.

Uma boa resposta à complexidade do museu contemporâneo, segundo Montaner, seria um espaço neutro, com um forte suporte tecnológico e máxima plurifuncionalidade. A arte do século XXI é caracterizada por um sentido bastante diverso de valores que refletem o mundo globalizado. As programações de museus devem estabelecer projetos de parceria com o público para um conhecimento coletivo. Para tal, a instituição deve funcionar como espaço para questionamento e convívio de valores divergentes.

As classificações de museus segundo Montaner (2003) são:

Os museus como objeto minimalista são museus que adotam formas bastantes definadas de caixa. Tadao Ando, buscou ao longo de uma série de projetos a forma mais arquetípica e sagrada de museu. No Museu de Arte Moderna, Fort Worth (2002), Tadao Ando criou uma série de caixas gigantescas com pórticos de vidro por fora e de concreto por dentro.




Museu de Arte Moderna, Fort Worth, 2002. Tadao Ando




Um exemplo mais modelar do minimalismo é a pirâmide de cristal do Grand Louvre, em Paris (1983-1989) de I.M.Pei. Outros exemplos de museu caixa e minimalista é o Museu de Escultura, São Paulo, o Mube (1995) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1999). Uma forma de museu entendido como lugar público, caracterizado por uma praça, um grande pórtico, semi-enterrado e a transformação de um edifício existente, simétrico e acadêmico em uma tipologia longitudinal e dinâmica.

O “museu-museu” são os que se resolvem internamente a partir da própria estrutura tipológica e dos que adotam uma forma que se integra à morfologia urbana. É a configuração dos edifícios como uma estrutura de espaço pensada com critérios de análise tipológica, para atender ao caráter das coleções. Cada novo museu surge como interpretação daqueles que o precedeu, redefinindo elementos essenciais (salas e clarabóias), comportando edifícios definidos e compartimentados. Um exemplo dessa concepção foi o Centro de Arte Contemporânea, em Vassivière, na França de Aldo Rossi (1991). Faz referências a tipologias alheias ao museu e próximas dos edifícios religiosos, agrários e marítimos: capela, silo e farol.


Centro de Arte Contemporânea em Vassivière (1991), França. Aldo Rossi.


O museu que se volta para si mesmo é aquele museu que se encerra em torno de sua coleção e de seus espaços e ao mesmo tempo abre-se delicadamente para seu exterior. É uma arquitetura que parte da atividade interior, buscando os focos de luz natural e a vista do entorno. O Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha (1988-1993), de Álvaro Siza Vieira é um exemplo de museu que se volta para si mesmo. Planta em forma triangular que permite fechar-se em si mesma, adaptando-se à memória da cidade com seus muros de pedra. Localiza-se no jardim histórico existente, remodelado pelo próprio Siza.




Dentro da fragmentação, condição contemporânea junto à complexidade dos programas de museus, existe o museu colagem, que é um museu que se resolve por colagem de fragmentos diversos, subdividindo a diversidade das exigências em diversos corpos. É uma característica que se consolidou nos anos oitenta, nos museus da última geração, na condição pós-moderna. Os valores metafóricos, narrativos e representativos ganharam importância para superar a concepção do museu como caixa branca, defendida na época da arquitetura moderna. Notados em museus de arte contemporânea, em que permitiram rastrear todas as possibilidades da relação entre obras de arte, espaços de exposição e expressividade dos contentores. Foi como James Stirling realizou em seus últimos museus, com suas promenades architecturales. E, um exemplo de museu fragmentado foi o Museum of Contemporary Art (MOCA) em Los Angeles (1982-1986), de Arata Izokazi. Uma articulação de volumes dispersos e fragmentados, organizados em torno às praças e pátios, no centro da cidade de Los Angeles.



Museum of Contemporary Art (MOCA) (1982-1986), Los Angeles, Arata Izokazi.



O antimuseu é a negação de qualquer solução convencional e representativa. Duchamp chegou a total problematização do espaço da galeria de arte e da organização do museu, criando peças como o seu museu portátil ou Boîte en valise (1941). Em outras situações ocorrem diversos exemplos de utilizar espaços metropolitanos que não pertencem às redes de museus: exposições espalhadas pela cidade, utilização de vitrines de armazéns, edifícios a ponto de ser derrubados, obras em construções, etc.



Boi en valise ou museu portátil (1941), Marcel Duchamp


As formas de desmaterialização podem se desenvolver em múltiplas direções, desde a caixa transparente e leve até as formas que se espalha pelo espaço urbano ou que se camuflam por trás de outros edifícios. Um exemplo de camuflagem e dissolução é o Museu das Cavernas de Altamira, em Santillana del Mar (1995-2001), de Juan Navarro Baldeweg, obra de forma escalonada que não quer interferir na paisagem, com pretensão de ser uma caverna submergindo na terra. Outro exemplo da dissolução da forma no entorno urbano é a Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, em Paris (1991-1994) de Jean Nouveal. A estrutura de aço o mais leve possível, desmaterializa-se entre gigantescas árvores do jardim.


Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, Paris (1991-1994), Jean Nouveal.



2 comentários:

  1. Excelente texto, muito esclarecedor. Roberto.

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  2. Adorei sua postagem e estou colocando um link no meu blog de sala de aula. Beijo.

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